Acho muito frequente essa queixa no consultório: “cansaço”. Não é falta de ar, não é uma fraqueza… mas é um cansaço para fazer atividades que antes se desempenhava de forma assintomática.
Sou do pressuposto que perda de massa muscular está presente de forma quase universal na maioria dos idosos, obvio que principalmente nos pacientes que não são tão ativos e nos sedentários. Mas esse tipo de apontamento (principalmente nos dias de hoje com tantas informações a respeito) não é tão difícil de ser feito muitas vezes pelo próprio paciente.
Como médica, tenho que investigar justamente o que é mais grave, descartar o que não é tão visível.
A consulta do geriatra deve ser longa, para entender como hábitos antigos influem na queixa atual. Já fumou? Tem uma avaliação pulmonar adequada? Será que o paciente tem DPOC ( que seria o enfisema… precisava de um texto a parte para explicar o termo) e já investigou com tomografia ou prova de função pulmonar?
Certa vez atendi uma senhora com queixa de cansaço cuja origem acabou culminando numa doença coronariana grave. E detalhe… ela não tinha eletrocardiograma nem ecocardiograma ( exames mais básicos) alterados. Ou seja, estou dizendo que as vezes o cansaço pode ser o sinal clinico de uma doença coronariana não diagnosticada ou não investigada. Para isso, exames como cintilografia ou tomografia de coronárias podem direcionar mais o diagnóstico. Já vi também pacientes com queixa de “pernas cansadas” cujo diagnóstico era um enorme aneurisma na artéria femoral. Uma outra paciente chegou ao ponto de ser diagnosticada com uma doença neurológica rara (óbvio que para um diagnóstico raro assim levam-se meses/ anos para ser feito).
Não espero de forma nenhuma preocupar quem tem uma queixa de “cansaço”, muito menos que se espere que o paciente que tenha cansaço chegue a fazer um cateterismo. A imensa maioria trata-se da perda de força e massa muscular (a famigerada sarcopenia). A ideia de trazer esse assunto no blog , é mostrar que o paciente idoso ( principalmente esse) não apresenta sinais clínicos tão óbvios, ou é complexo o bastante para conseguir trazer resultados multifatoriais de toda uma vida e precisar ser investigado de forma ampla e global. Entender os fatores de risco , conversar sobre os hábitos de vida, os antecedentes familiares e só aí juntar com os exames já realizados para entender o que ainda falta fazer. Na verdade esse é desabafo para dizer que todo paciente deve ser ouvido e investigado , nunca devemos generalizar o paciente e muito menos seu diagnóstico.